Meninos e escravos - Pode haver menores entre os brasileiros vítimas da rede de tráfico sexual desbaratada na Espanha.
O Ministério Público Estadual do Maranhão diz acreditar que entre os brasileiros sob custódia da polícia espanhola desde a terça-feira passada, acusados de se prostituir, haja adolescentes. Seriam 16, com idades entre 15 e 17 anos, vítimas de uma rede de prostituição masculina que atuava no país. Na semana passada, policiais espanhóis prenderam 14 pessoas, entre elas dez brasileiros, acusados de obrigar entre 60 e 80 rapazes a fazer sexo por dinheiro. Agora, a Promotoria da Infância e da Juventude do Maranhão vai investigar uma lista com o nome de todos os adolescentes que saíram do Estado com destino à Espanha. Segundo o Ministério Público, o governo espanhol não respondeu às solicitações dos promotores e não forneceu informações sobre os jovens. O Itamaraty, afirmando sua preocupação em preservar a privacidade das vítimas, não revelou os nomes dos brasileiros detidos. O Consulado-Geral do Brasil está em permanente contato com as autoridades espanholas encarregadas do assunto, mas não está habilitado a passar nenhuma informação oficial, afirmou a representação diplomática brasileira.
O grupo preso na semana passada é acusado de comandar uma rede de prostituição com base em Palma de Mallorca e braços em várias cidades espanholas. Recrutava rapazes, principalmente no Maranhão, prometendo trabalho e dinheiro fácil. Uma vez na Espanha, eram obrigados a pagar e 200 para ter moradia, além do valor da passagem aérea. Recebiam metade dos e 60 cobrados por programa. A jornada de trabalho era cumprida à base de drogas, como cocaína e remédios para manter a ereção.
Estima-se que somente em Madri trabalhem mais de 1.000 garotos de programa, a maioria são estrangeiros. Segundo dados da Fundación Triángulo, dedicada ao tema, o Brasil é o país que mais fornece esse tipo de mão de obra, seguido por Marrocos e Romênia. No mundo inteiro, calcula-se que 1 milhão de pessoas sejam exploradas sexualmente. O tráfico de pessoas é mais lucrativo que o tráfico de drogas ou de armas, afirma Lená Medeiros de Menezes, professora de história contemporânea da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj). Segundo ela, os lucros para esse crime são maiores, enquanto as punições tendem a ser
mais brandas.
Para Xavier Sala i Martin, professor da Universidade Colúmbia, dos Estados Unidos, a saída para evitar os abusos é legalizar e regulamentar o serviço de venda de sexo. Dessa forma, ele acredita, vítimas de exploração se sentem livres para denunciar os exploradores. Em outra linha, Víctor Lapuente Giné, professor de ciência política da Universidade de Gotemburgo, na Suécia, sugere criminalizar a compra de sexo. Segundo ele, a Suécia fez isso em 1999 e, desde então, houve queda de 50% no número de prostitutas e de 80% no número de clientes. Enquanto a Suécia registra cerca de 600 vítimas de exploração sexual por ano, nas vizinhas Dinamarca e Finlândia o número pode chegar a 15 mil.
Fonte: Humberto Maia Junior e Rodrigo Turrer - Época
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